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Mostrando postagens de abril, 2020

QUARENTENA (The Big Picture por Marcelo Rayel Correggiari)

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Tempos tortos, remédios amargos. Do jeito que as coisas ficaram nos últimos tempos, convenhamos: já rolava algum tipo de ‘distanciamento social’ na parada. Ficar em casa, de alguma maneira, foi só ‘um plus’. Faltaria algum nível (ou quantidade) de coragem para que cada um admitisse que os círculos sociais já tinham se encurtado dramaticamente de uns tempos para cá — assim como também falta admitir que já havia ‘uma penca’ poluindo, por motivos psiquiátricos, as possíveis tertúlias. Encontrar um velho amigo, uma velha amiga, com um gesto e uma palavra doces nesses dias é algo que vale bem mais que ouro. Ainda tem gente que acredita que sairemos melhor ao final de toda essa turbulência — nome bacanudo para ‘tragédia e carnificina’. Tenho lá minhas dúvidas se estaremos melhores ao final de tudo: com as perdas já contabilizadas por causa da praga, não sabemos como repor a riqueza intangível perdida por conta de severos quadros médicos irreversíveis. Daremo-nos por felizes

ESTÁVAMOS TODOS DISTRAÍDOS (The Big Picture por Flávio Viegas Amoreira)

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(texto publicado originalmente em A TRIBUNA de Santos) Poeta, contista e crítico literário, Flávio Viegas Amoreira é das mais inventivas vozes da Nova Literatura Brasileira surgidas na virada do século: a ‘’Geração 00’’. Utiliza forte experimentação formal e inovação de conteúdos, alternando gêneros diversos em sintaxe fragmentada. Participante de movimentos culturais e de fomento à leitura, é autor de livros como Maralto (2002), A Biblioteca Submergida (2003), Contogramas (2004) e Escorbuto, Cantos da Costa (2005).

O POÇO É SEMPRE MAIS FUNDO DO QUE IMAGINAMOS (por Antonio Luiz Nilo)

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Existem várias categorias de filmes. Aqueles, por exemplo, que você vê com a exclusiva finalidade de se divertir, pouco se importando com a qualidade do roteiro, o nível da direção ou a precisão da montagem. O máximo de crivo técnico que pode sair da sua boca é algo do tipo: “Mas aquela velhinha trabalha pra cacete, né não?” Ou aqueles outros que você escolhe na Netflix porque brigou com a mulher ou levou uma comida de rabo do chefe e quer apenas extravasar. Aí eu incluo os Velozes e Furiosos e Transformers da vida, onde a produção pode até levar um Oscar, mas o roteirista não passa de um candidato ao Framboesa. Ou então aqueles filmes que os cinéfilos se afundam na poltrona, piscando uma única vez a cada 50 minutos, atentos a um inusitado plano-sequência, à perfeita disposição de objetos de uma direção de arte impecável, a uma narrativa que desconstrói a cronologia ou a um roteiro de diálogos inteligentes e licenciosos. O protótipo da película cult, razão da existência do