MISSING: MARINA LIMA, QUE TINHA A VOZ MAIS DOCE DO ROCK E DO POP BRASILEIROS, E ENTÃO O QUE ERA DOCE SE ACABOU
Nascida
no Rio de Janeiro, mudou-se ainda criança (5 anos) para a capital dos Estados
Unidos, Washington, onde viveria até os 12 anos, pois o pai, Ewaldo Correia
Lima, era economista do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Neste período ganhara
um violão do pai, como um pretexto para sentir menos falta do país natal.
Marina é irmã de Roberto, economista, e de Antônio Cícero, poeta e filósofo.
Iniciou
a carreira em 1977, quando teve uma canção gravada por Gal Costa, "Meu
Doce Amor". Decidiu musicar um dos poemas do irmão mais velho, Antônio
Cícero e obteve reconhecimento. Estabelecida essa conexão
"emocional", Marina e Cícero esqueceram antigas divergências
ocasionadas pela idade e, a partir de então, trilhariam uma parceria de sucesso.
De volta ao Rio de Janeiro, assina um contrato e lança o primeiro LP, Simples
Como Fogo em 1979. No começo dos anos 1990, assina como Marina Lima, e não
apenas Marina.
Desde
a década de 1960, quando surgiram os especiais do Festival de Música Popular
Brasileira (TV Record) até o final da década de 1980, a televisão brasileira
foi marcada pelo sucesso dos espetáculos transmitidos apresentando os novos
talentos registravam índices recordes de audiência. Marina Lima participou do
especial Mulher 80 (Rede Globo), o programa exibiu uma série de entrevistas e
musicais cujo tema era a mulher e a discussão do papel feminino na sociedade de
então, abordando esta temática no contexto da música nacional e da inegável
preponderância das vozes femininas, com Maria Bethânia, Fafá de Belém, Zezé
Motta, Marina Lima, Simone, Elis Regina, Joanna, Gal Costa, Rita Lee e as
participações especiais das atrizes Regina Duarte e Narjara Turetta, que
protagonizaram o seriado Malu Mulher.
Valendo-se
do filão engajado da pós-ditadura e feminismo, cantou no coro da versão
brasileira de "We Are the World", o hit americano que juntou vozes e
levantou fundos para a África ou USA for Africa. O projeto Nordeste Já (1985),
abraçou a causa da seca nordestina, unindo 155 vozes num compacto, de criação
coletiva, com as canções "Chega de mágoa" e "Seca d´água".
Elogiado pela competência das interpretações individuais, foi no entanto
criticado pela incapacidade de harmonizar as vozes e o enquadramento de cada uma
delas no coro.
Após
a morte do pai, no período de produção de O Chamado (1993) e o cancelamento da
turnê do CD posterior a este, Abrigo, de 1995, provocado por este e outros
problemas pessoais, Marina entra em depressão por causa da morte do pai e da
separação da mulher que ela amava. Na época alegava que o empecilho eram
problemas nas cordas vocais. Mesmo neste estado, lança em 1996 o CD Registros à
Meia Voz, com versões próprias para letras de Paulinho da Viola, Zélia Duncan, Christiaan
Oyens, Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Em novembro de 1999, Marina fez um
ensaio para a revista Playboy, quando recebeu R$2,5 milhões para posar. Mais
tarde Marina afirmou que problema na voz foi devido erro médico.
Em
2000, retorna aos palcos com Síssi na Sua, um espetáculo com influência
teatral. O ano de 2001 fez com que o trabalho de Marina Lima tivesse mais ainda
em evidência pelo fato de o álbum com a canção "Setembro", que serviu
de nome para o disco, ter além do rock, uma pegada eletrônica. Neste ano
"No Escuro" era trilha sonora da novela O Clone;
"Notícias", da novela Esperança. Em 2003, no acústico MTV, apesar de
ainda deficiente, é nítida a melhora na voz em "A Não Ser Você",
"Ainda é Cedo" (música de Renato Russo) ou até mesmo em
"Sugar"- canção gravada primeiramente em estúdio e que fez parte da
novela Agora é que São Elas, da TV Globo. Em outubro de 2005, Marina estreia o
novo show Primórdios com duas temporadas, por duas semanas em São Paulo,
seguida de outra temporada em janeiro. Em agosto de 2006, lança o CD Lá Nos
Primórdios, com a voz mais firme e forte. Anuncia que está fazendo aula de
canto e fono, para reaprender a usar a voz. Em novembro de 2006 registrou o
show "Primórdios" em DVD com show fechado no Auditório do Ibirapuera
(SP). O DVD ainda se mantém inédito, sem data para edição. Em 2007, Marina se
lança na estrada com "Anna Bella", a releitura de "Cara",
"Meus Irmãos" num novo show, o Topo Todas Tour. O show é um apanhado
de seus maiores sucessos com as canções inéditas de seu último disco, o
"Lá nos Primórdios". O show foi encerrado na metade de 2008 e deu
lugar para que Marina concebesse o "Marina Lima e Trio em Concerto".
Em
2009 Marina planejava lançar o registro em DVD do show "Primórdios" e
o CD de inéditas que veio preparando desde o início deste ano, contando com a
produção de Edu Martins, que ficou para 2011. Em 2010 Marina planejava lançar
seu primeiro livro, o qual se chamaria "Marina Lima Entre as Coisas",
mas problemas com gráfica e editora impossibilitaram a cantora de lançar. Em
2011, após a morte da mãe, Marina vendeu sua cobertura na Lagoa Rodrigo de
Freitas (RJ) e se mudou para São Paulo, no bairro de Higienópolis, e lá compôs
todas as novas canções do seu próximo álbum, Clímax, lançado em meados do mesmo
ano. O disco foi aclamado pela crítica e rendeu os hits "Não Me Venha Mais
com o Amor" e "Pra Sempre" (composta e gravada com Samuel Rosa).
Além de entrar na estrada com a turnê do disco Clímax, com a música "Pra
Sempre", Marina conseguiu uma indicação ao VMB 2011 na categoria
"Melhor Música". Em 2013, lançou o seu livro de memórias e
percepções, intitulado "Maneira de Ser". No final de 2015, lançou o
disco "No Osso", registro ao vivo da turnê de voz e violão que vem
fazendo desde o fim de 2014. O álbum possuiu releituras de clássicos como
"Virgem", duas canções inéditas - "Da Gávea" e
"Partiu" - e duas faixas bônus gravadas em estúdio: um cover de
"Can't Help Falling In Love", sucesso do cantor norte-americano Elvis
Presley e uma versão da inédita "Partiu" gravada com a banda Strobo.
Em
23 de fevereiro de 2018, lançou o single "Só os coxinhas", um funk
carioca composto por Marina Lima e seu irmão Antonio Cicero. (da Wikipedia)
"Uma
Garota Chamada Marina" é dedicado aos "grunkies", termo que
significa amigos próximos, ligados pelos mesmos gostos e afinidades. "Não
era para ser um documentário, era um registro da nossa turma, dos 'grunkies'”,
revela Marina sobre a proposta inicial do filme. Nem ela nem Candé, seu grande
amigo e ex-namorado, imaginaram que as filmagens se alongariam por uma década.
O
filme começa em 2009, com um show em Porto Alegre, e finaliza com a
apresentação no Circo Voador, no Rio, de seu último disco, "Novas
Famílias", lançado em 2018. As turnês dos álbuns “Clímax” (2011) e “No
Osso” (2016) também foram registradas. Sobre o roteiro, assinado a quatro mãos,
Marina diz que foi um processo simples. "O Candé me mostrou o material que
ele tinha e a partir do que ele trouxe, ajudei a botar ordem. Foi
tranquilo", conta.
Por
ter sido filmado com diferentes suportes e formatos digitais — VHS, câmera
digital e até celular —, o que resultou em linguagens visuais diversas, o
documentário acabou ganhando mais autenticidade na hora de contar as escolhas e
mudanças da vida de Marina. Há imagens desfocadas, em cores fortes, em preto e
branco, closes... "A linguagem visual ficou totalmente por conta do Candé
e da equipe de fotografia. Onde eu pude ajudar foi na roteirização, mas, no
resto, foram escolhas dele", diz Marina.
Falando
em mudanças na carreira, o documentário dá grande espaço para a decisão de
Marina de sair do Rio para morar em São Paulo no início de 2010. "Meu auge
já tinha passado no Rio, ir para São Paulo foi uma forma de olhar para dentro.
As pessoas sabiam quem eu era, mas não sabiam quem eu queria ser agora",
explica Marina em uma das cenas.
Devidamente
instalada na capital paulista, a artista resolveu também ensaiar e gravar em
casa. "Ter um estúdio em casa, hoje em dia, com a tecnologia, é uma
escolha viável e não muito cara. É como um pintor ter um ateliê, acho que
facilita muito", fala sobre a experiência. O álbum "Clímax", por
exemplo, foi totalmente gravado em sua casa.
Detalhista,
organizada e, acima de tudo, minuciosa quando se trata de música, é possível
ver como Marina sofreu diante de situações graves, como a depressão que teve
depois do lançamento de “Abrigo” (1995). Na época, ela chegou a perder a voz e
precisou cancelar muitos shows. "O meu analista disse que aquilo também
era resultado de um acúmulo de mágoas. E foi ele quem me incentivou a posar
nua, dizendo que poderia me fazer bem, além de ter a vantagem do cachê, que era
alto. Fiquei sem reação, mas ele falou que era como uma 'prescrição
médica'", conta ela, que foi capa da Playboy em 1999.
Na
época, Marina certamente teve que enfrentar sua timidez, uma forte
característica de sua personalidade. Há alguns momentos no filme, inclusive,
que ela parece estar tensa e nervosa ao falar diretamente para a câmera.
"Eu não diria isso. Eu sou tímida mesmo... Fico à vontade quando eu não
vejo a câmera ", afirma, rindo. E reforça: "Acho que estou ali nesse
filme, inteira".
Além
de mostrar a criação, produção, ensaios e shows dos discos “Clímax”, “No osso”
e “Novas famílias”, o documentário reserva uma parte para o espetáculo “Dois
Irmãos”, que Marina produziu ao lado de Antonio Cicero, e também para o dia da
posse dele na ABL. Um dos entrevistados do documentário, o professor e escritor
Fernando Muniz destaca a importância da parceria dos irmãos no ativismo dos
anos 1980. "Criamos uma marca. São mais de 200 músicas. Retratamos uma
época ótima de mudança e fervor no Rio. Algumas músicas servem para sempre;
aliás, essas geralmente são as melhores", opina Marina.
No
filme, ela fala que "deu muita sorte de ter começado a criar com meu
irmão" e também comenta sobre a "desassociação" entre os dois,
quando Antonio Cícero resolveu se dedicar mais à carreira de poeta. Algo que no
começo ela não aceitou bem, mas depois viu que era uma decisão certa para
ambos. O filme mostra o show que marcou o reencontro dos dois em Porto Alegre.
"Foi lindo, eu e meu irmão relembrando nossa vida e carreira musical e
percebendo que estávamos há 15 anos com saudades", lembra, afirmando que
hoje a relação é boa. "O Cícero é o único sobrevivente do meu primeiro
núcleo . Perdermos um irmão e meu pai e mãe já se foram, então ele representa
muito pra mim. Ele faz parte de uma história, de uma família que eu vou amar pra
sempre", diz.
Em
vários momentos do documentário, Marina demonstra firmeza na forma como guia
sua carreira, mas também não minimiza momentos de dúvidas e tristeza. "O
talento existe", diz, firme, na época da decisiva mudança para São Paulo.
Segundo ela, o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é a grande questão
na vida de todos. "É o famoso pensamento de Nietzsche: 'Como tornar a sua
própria vida uma obra de arte'. Também tem uma frase do Cicero e minha da
música 'Meu Sim': 'Talvez o fim não seja nada e a estrada seja tudo'. É uma
eterna lapidação", filosofa a cantora de 64 anos. Atualmente, ela roda o
Brasil com a turnê do álbum “Novas Famílias” e prepara um songbook.
(por Monica Loureiro para REVERB)
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