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POIS É, ACONTECE... (um conto de Antonio Luis Nilo)

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Não fazia frio em Luanda, tampouco calor. O vidro da janela do banheiro estava aberto e o frescor do início do cacimbo não incomodava. Na África Meridional, existem duas estações: a das chuvas, que ocorre de outubro a abril, e a da seca, conhecida regionalmente como “cacimbo”, de temperaturas mais amenas.  Abaixei a tampa e me preparei para mijar. Um mosquito cruzou a tábua da privada no exato instante em que o primeiro jato se desprendeu. Alvejado em pleno voo, o pernilongo foi arremessado de encontro à parede do vaso e escorreu para a superfície da água, ainda pouco misturada à urina. Direcionei o jato para o seu corpúsculo que flutuava, até ter a certeza de que estava liquidado, e pensei na possibilidade matemática de um mosquito ser abatido no ar por um jato de urina de alguém sonolento. Uma em mil... uma em um milhão. Afinal, eu não persegui o mosquito em seu voo. Nem tinha notado a sua presença. Ele que entrou na frente no momento exato em que eu desferia o primeiro jato